"Eu não durmo, respiro apenas"
exposição individual de pintura, escultura e desenho
30 de maio a 28 de junho 2009
exposição individual de pintura, escultura e desenho
30 de maio a 28 de junho 2009
Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia
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"eu não durmo respiro apenas", 2009
díptico acrílico sobre tela 70x50cm cada um
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"granja, o meu primeiro amor", 2009
acrílico sobre tela, 130x146cm
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"unifinished", 2009
acrílico sobre tela 146x130 cm
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"sem mãos", 2009, fibra de vidro e acrílico
Manuel Filipe Sousa, António Barbosa,
Mário Dorminsky, Filipe Rodrigues
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valter hugo mãe
Narrativa, sobre o trabalho de Filipe Rodrigues
Imaginemos que as histórias se contam com a exposição de todos os seus elementos ao mesmo tempo. Imaginemos que aquilo a que se quer aludir, para construir inegavelmente uma narrativa, é convocado numa mesma tela como se uma mesma tela se comportasse como a colecção de referências necessária para contar uma história. Filipe Rodrigues não nos conta a história, o que faz é antes dispor na imagem as personagens principais, o plano de um ou mais cenários, o movimento essencial para que sintamos a eminência de uma acção, de um qualquer acontecimento que, esse sim, pode consubstanciar a história.
Imaginemos que as histórias se contam com a exposição de todos os seus elementos ao mesmo tempo. Imaginemos que aquilo a que se quer aludir, para construir inegavelmente uma narrativa, é convocado numa mesma tela como se uma mesma tela se comportasse como a colecção de referências necessária para contar uma história. Filipe Rodrigues não nos conta a história, o que faz é antes dispor na imagem as personagens principais, o plano de um ou mais cenários, o movimento essencial para que sintamos a eminência de uma acção, de um qualquer acontecimento que, esse sim, pode consubstanciar a história.
Estes trabalhos são, por isso, indutivos de um tempo maior, implicando imediatamente que os percebamos como instantes de um contínuo ao qual acederemos apenas pela extrapolação de cada elemento permitindo que, até ao infinito, se tracem os caminhos que quisermos, todos válidos, todos plausíveis. O observador tem nas suas mãos, de modo mais responsabilizador do que o costume, o papel de accionar todo o potencial do que aqui é visto. Cabe ao observador esse jogo até lúdico de preencher os espaços que vão entre imagens que se sobrepõem, naquele sentido maior de preencher as lacunas discursivas que permitam dar sentido ao fragmento que se conta. Existe uma preponderância da decisão do observador, o que apela a um sentido crítico especial do observador, tratando-o como fundamental e necessário para que se realizem os propósitos da arte. É claro que, na verdade, todas as obras buscam esse empenho do espectador, mas nem sempre como aqui acontece, quando o puzzle se apresenta por camadas sucessivas de sentido que, dispostas pela ordem que cada um de nós quiser, hão-de criar uma narrativa distinta, com solução assente nas opções livres de cada um.
Com resultados muito gráficos, o que mais encanta no trabalho de Filipe Rodrigues é um lado algo cinematográfico, onde os rostos por vezes se assemelham a estrelas de cinema em cartazes publicitários, apelando a uma tónica de aventura que se acompanha sempre de um acentuado charme e profunda sedução. Os filmes de Filipe Rodrigues prometem romance, perigo, acção, cumplicidades, suspense, etc., exactamente como qualquer produção da sétima arte, realizados a partir do pincel e editados, montados e sonorizados pela imaginação de quem vê. A mim impressionam-me sobretudo as mulheres, os seus belos rostos tão clássicos, delineadas com uma expressividade assinalável, como se vê nos magníficos desenhos, por exemplo, ou em diversas telas, com destaque para a intitulada «Como se fosse um segredo».
Sem segredos, ou com menos segredos, Filipe Rodrigues é um artista a ter debaixo de olho. Raramente podemos encontrar uma cinemateca assim tão insuspeitamente posta nas paredes.
Beatriz Pacheco Pereira
A observação de situações que parecem nada ter de extraordinário oferecem-se ao artista plástico como motivo de traços e cores, de desenho e pintura, como se nessa transformação se pudessem sublimar e tornar relevantes. Assim acontece aos grandes conhecedores da complexidade do simples.
Nada, de facto, é mais complicado do que retirar das ideias e das situações ditas normais, a essência do que as pode transformar em arte. É essa a ambição do artista. É também aquilo a que o amante de arte aspira ao ver um quadro, uma escultura ou uma qualquer manifestação similar. Olhar a transcendência do normal e compreendê-la. Reconhecer a impressão estética e absorvê-la nos sentidos. Seduzir e ser seduzido, inevitavelmente.
“Eu não durmo, respiro apenas”. O mote da exposição de Filipe Rodrigues não podia ser mais complexo. Dormir é recuperar forças, descansar, reencontrar o ritmo para se continuar. Mas Filipe Rodrigues diz que não dorme, ou seja, mantém-se atento à vida. Respirar é igualmente essencial, não como um mero acto biológico mas, neste caso, como sinónimo de interpretação de um modo de estar na vida. Ou seja, tudo neste artista nos remete para a Vida, a grande vida do nosso quotidiano, banal, por vezes, mas sempre singelamente paradoxal. Fragmentada, sobreimposta, sobreimpressa, a realidade do pintor sai racionalizada da observação, através da intervenção artística, salvando o momento do esquecimento. A arte é também isso.
Maio 2009